Mourão
Desço o caminho que conduz à casa da Quinta do Mourão e o enamoramento acontece. Rara é a vez que não paro o carro, na primeira ou segunda curva do caminho, para me deixar seduzir, ora pelo verde refrescante da folhagem, ora pelas cores outonais da vinha, ora pelos troncos nus, despidos pelo inverno.
Sempre que chego ao Mourão, tudo acontece pela primeira vez: os sabores dos pratos e dos doces da Maria Teresa, hoje perfeitamente replicados pela Sandrinha, os vinhos dados a provar pelo Mário Braga, agora sabiamente preservados e partilhados pelos filhos. O Mourão tem esta magistral sabedoria de manter a genuinidade da terra que nos acolhe.
As memórias que guardo do Mourão crescem à mesa. É à mesa que se partilham sabores, aromas, afetos, narrativas. É à mesa que se sentam as diferentes gerações, numa harmonia que se diria iniciática. A mesa do Mourão tem essa magia de se prolongar pelo vinhedo, pelo laranjal, que bordejam amorosamente o Douro, e tem, sobretudo, a magia de prolongar o tempo.
Sempre que regresso ao Mourão, regresso a casa, regresso ao enamoramento da terra.
Auxilia Ramos