A Quinta do Mourão, sede da organização Mário Braga, Herdeiros, apresenta ainda algumas das características que Ramalho Ortigão vislumbrou numa manhã de outono, em pleno século XIX, quando dormiu num dos quartos que abrem sobre o Douro:
“Debaixo da varanda, voltada ao norte, estende-se em doce declive um largo talhão de vinha baixa, cerrada, espessa, em todos os tons do verde, desde o mais vivo ao mais escuro, rajado das tintas maduras do outono em manchas cor de âmbar e cor de fogo, louras, vermelhas, calcinadas. Em baixo, o rio Douro, espraiado, descreve um enorme S em toda a extensão do vale, reluzindo entre rasgões de olivedos e pomares, por detrás das ramas viçosas dos choupos e dos amieiros.”
As Farpas
No entanto, as diferenças existem, até porque entre o texto de Ramalho e o presente já passaram cerca de cento e setenta anos. Hoje, a Mário Braga, Herdeiros, mantendo as tradições do passado, vive um período de rejuvenescimento e de inovação.
Adquirida em 1972 por Mário Braga (marido e pai dos atuais proprietários), a Quinta do Mourão é sede de um conjunto de propriedades – Marialva, Poisa e Barrojas. Estas propriedades, referenciadas desde o século XVIII no mapa pombalino de demarcação da região do Douro, integram-se na herança vinícola duriense, aliando tradição e modernidade.
O vinho produzido na Quinta do Mourão manteve, desde sempre, um processo de vinificação tradicional que conferiu características muito próprias aos seus néctares, que os tornaram apreciados e preferidos por uma larga fatia de clientes e grandes exportadores de vinho do Porto. Paralelamente foram-se constituindo, ao longo de vários anos, stocks de vinho velho, envelhecido em tonéis de madeira, que foram enriquecendo o acervo vinícola da família.
Hoje, e após a morte de Mário Braga em 1999, a atual administração – 2ª e 3ª Gerações – leva a cabo um projeto de modernização e revitalização das propriedades, não descurando nunca a qualidade e a tradição, mantendo-se fiéis ao espírito da família.
Assim, e após a construção de uma moderna adega (lagares em inox e cubas de fermentação com controle de temperatura), a organização Mário Braga, Herdeiros lançou duas marcas de vinho de DOC Douro – Rio Bom e Quinta do Mourão, e uma marca de vinho do Porto – S. Leonardo.
O lançamento destes vinhos no mercado foi muito bem recebido, tendo estado presentes em certames nacionais e estrangeiros e participado em diversos concursos em que ganharam várias medalhas e prémios.
Todo este esforço de modernização e cuidado nas terras faz com que, evocando mais uma vez Ramalho Ortigão, a Quinta do Mourão continue a ser “um jardim onde o vinho corra, inundando-o de um picante cheiro de mosto.”
Zaida Braga